Logo depois que a poeira do Carnaval baixa nas grandes capitais, começa a temporada de troféus, no Rio de Janeiro, é a escola de samba que brilha na Sapucaí que leva o título de campeã, em Salvador, distribuem-se estatuetas com nomes criativos tipo “De Hoje a Oito” para os artistas e blocos que fizeram bonito. Tudo parece lindo, democrático, votado pelo povo. Mas vamos combinar, nem sempre o que reluz é ouro.
E aí vem Feira de Santana, a “diferentona”, com sua Micareta a primeira e maior do Brasil. O problema é que depois que o último trio desliga o som, começa um festival paralelo que ninguém aplaude, o dos troféus duvidosas.
Começa a boataria de qual cantor foi “o melhor”, qual banda “mais arrastou”. Mas o povo, aquele mesmo que suou na avenida, que correu atrás do trio, que gritou até perder a voz, esse não é chamado nem para opinar. Muito menos os artistas que de fato botaram o povo para dançar. Não se iluda, na disputa pelo troféu da Micareta, o talento é detalhe. O que pesa mesmo é o QI. E não é “Quociente de Inteligência” não é “Quem Indica”. E, de preferência, quem indica com uma maleta recheada com papel com carimbo do Banco Central.
Todo ano é a mesma novela, meia dúzia de iluminados se reúne e define quem foram “os melhores”. Baseado em quê? Em pesquisa? Que pesquisa? Feita onde? Com quem? Parece mais uma daquelas promoções de prateleira, leva o prêmio quem tem crédito na praça. E o artista que fez milagre com uma banda enxuta, que levou energia para a avenida, que emocionou o folião, esse nem o nome na lista ganha.
E o mais trágico de tudo, isso já virou tradição. A falta de transparência é tão constante que a premiação virou piada entre os próprios participantes. Troféu em Feira? Só se for o troféu “Baratino”. Porque de verdade mesmo, só quem tem voz é o Pix. O Pix, sim, é o som mais alto da Micareta. Toca mais alto que a guitarra do Bell Marques. Então, que fique claro, qualidade musical e presença em trio são ótimos… para emocionar o público. Mas para carregar o troféu, isso é para quem toca outro tipo de nota. E que vença o melhor ou pelo menos, o mais bem financiado.
Por: Fábio Negriny / DRT 3307