Na manhã desta quinta-feira (15/05), na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, foi realizada uma audiência pública para discutir os rumos da Micareta. A audiência, proposta pelo vereador Pedro Américo, contou com a presença de artistas da cidade, empresários, comerciantes, produtores musicais. Mas quem chamou a atenção mesmo foi um dono de camarote, que subiu à tribuna e soltou uma daquelas frases que dá vontade de rebobinar o tempo e perguntar: “O senhor tem certeza do que acabou de dizer? ”
Com todas as letras (ainda que em ordem confusa), o cidadão afirmou que a “Micareta de Feira de Santana não precisa de turista”, e que “não precisa de divulgação nacional”. Enquanto centenas de trabalhadores informais e comerciantes lutam por mais visibilidade para aumentar as vendas, vem um dono de camarote dizer que a festa não precisa ser divulgada. É quase como um dono de restaurante dizer que cliente atrapalha.
A fala, que parecia um amontoado de palavras jogadas no improviso, deixou muita gente sem entender onde ele queria chegar , ou se ele chegou a algum lugar. Para quem depende do movimento da festa para garantir o sustento, o discurso caiu como um balde de água fria no meio do calor da esperança de alguns presentes.
“É fácil para ele dizer isso”, desabafou uma ambulante que vende cerveja no circuito da festa. “Ele tem apoio privado, e parece que recebe ajuda do poder público, ocupa espaço de graça e ainda vende água por R$ 8 e refrigerante por R$ 15 no seu camarote. E a gente aqui, contando moedinha para comprar gelo e isopor. ”
Segundo informações que circulam nos bastidores da festa, camarotes privados têm acesso facilitado a espaço público, custeado, em parte, com dinheiro público. E ainda praticam preços que fariam inveja a aeroporto em dia de greve.
O que ficou claro para boa parte dos presentes na audiência é que o tal dono de camarote realmente vive uma vida ALTERNATIVA, parece viver numa bolha climatizada, com open bar, buffet e ar-condicionado. Esquece, ou ignora que sem turista, não tem gente na rua. Sem gente na rua, não tem venda de espetinho, de água de coco, de cerveja na caixa de isopor. Sem isso tudo, a micareta perde sua alma popular. Dizer que a Micareta não precisa de turista é cuspir no prato onde milhares de feirenses tentam, ano após ano, garantir seu sustento é transformar a festa do povo num privilégio de poucos.
Por : Fábio Negriny / DRT 3307