Enquanto o povo rala para conseguir um atendimento decente nos postos de saúde, desvia de buraco como quem joga dama na calçada, e torce para não ser assaltado antes de chegar no ponto de ônibus, eis que surge algo extraordinário direto da Câmara de Salvador, a criação do “Dia da Prostituta”.
Em meio ao caos urbano, à educação precária, a vereadora Marta Rodrigues (PT), que por acaso é irmã do governador Jerônimo Rodrigues, resolveu que o que Salvador realmente precisa agora, mais uma data comemorativa.
A justificativa da vereadora tem um acontecimento histórico, e até ‘’ nobre’’, homenagear a resistência das profissionais do sexo, inspirada num episódio ocorrido em Lyon, na França, em 1975, quando prostitutas ocuparam uma igreja em protesto contra a violência e a repressão policial. Uma narrativa forte, sem dúvida. Mas aí fica a pergunta, será que esse é mesmo o foco mais urgente da capital baiana neste exato momento?
É como se estivéssemos no Titanic, água até o pescoço, e a vereadora preocupada em escolher a trilha sonora da banda. Salvador afunda em problemas estruturais, principalmente na segurança pública, e a Câmara, que deveria ser o farol do debate público, parece mais um palco de encenação para discursos distantes da realidade da maioria.
Claro que a pauta dos direitos humanos e da dignidade de qualquer categoria deve ser levada a sério. Mas a pergunta que grita, será que não tem nada mais urgente para ser discutido? Ou será que a estratégia é justamente essa, falar de tudo, menos do que realmente importa?
Talvez a próxima proposta seja o “Dia do Contribuinte Esquecido”. Mas esse, convenhamos, seria feriado o ano inteiro.
Por: Fábio Negriny / DRT 3307