Por : Fábio Negriny / DRT 3307
O “influenciador digital” conhecido como Junior Calderão, que ostenta uma legião de quase 11 milhões de seguidores nas redes sociais, decidiu usar sua visibilidade para atacar a terra em que nasceu. Em um vídeo que logo viralizou, Junior Calderão disparou: “Eu moro em Feira de Santana, estou doido pra ir embora daquele inferno de lugar.” Quando questionado se era natural de lá, não apenas confirmou, como tripudiou: “Nasci sim, ô cidade podre. Ali é fim de carreira, fim de mundo. Lá não tem nada.”
Declarações assim não passam despercebidas e tampouco devem. O que se viu logo depois foi uma enxurrada de críticas de feirenses indignados com o tom e o desdém do influenciador. E com razão. Afinal, não se trata apenas de uma opinião mal colocada, mas de um gesto que revela o tamanho do abismo entre a fama e a responsabilidade de quem a carrega.
Feira de Santana é a segunda maior cidade da Bahia, com PIB superior a R$ 12 bilhões, um dos principais polos comerciais e logísticos do Nordeste. O ‘’influenciador ‘ esqueceu que a universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que acolhe mais de 10 mil estudantes e forma profissionais que abastecem o Brasil inteiro com talento. A cidade tem história, cultura, economia pulsante e, sobretudo, um povo que não carrega vergonha de suas origens.
A crítica, quando bem fundamentada, pode até edificar. Mas o que se viu foi arrogância travestida de sinceridade. O que mais assusta nem é a ignorância, mas a segurança de quem fala daquilo que não entende como se fosse autoridade no assunto. Há um trecho das escrituras que não poderia ser mais apropriado neste momento: “O meu povo perece por falta de conhecimento.” Só erra assim quem perdeu a noção da própria origem ou decidiu negá-la para agradar uma bolha digital que consome bobagem como se fosse conteúdo.
Mais grave ainda seria se alguém de Feira resolvesse, por puro deslumbramento, premiar essa mesma figura com alguma honraria ou título, como já se viu por essas bandas. A vaidade às vezes cega mais que a ignorância. Não é preciso ser bairrista para defender sua cidade,basta ter o mínimo de gratidão por onde se veio. E, convenhamos, quem cospe no prato que comeu dificilmente saberá valorizar qualquer outro lugar.