Enquanto o Brasil se debate numa crise de identidade, o Ministério da Cultura, decidiu que o que o povo realmente precisa, entre o café caro e outros diversos itens da cesta básica, é de um cabaré repaginado com gerência feminina e tudo. A quantia de R$ 1,35 milhão, via Lei Rouanet, foi autorizado para o espetáculo “Tabaris Dancing ou Cabaré Máximo, toda gerência é feminina”.
O projeto resgata a história de um antigo brega, e aqui não estamos falando do gênero musical, mas do tipo de casa onde se trocava afeto por dinheiro. O Tabaris funcionou até 1934 na rua Xavier de Toledo, onde hoje é o Shopping Light, no centro de São Paulo. Era, segundo registros históricos, um bordel. Ou, para os mais timidos, um “prostíbulo com valor histórico”.
Mas agora, com carimbo de arte e tudo, virou “produção de artes cênicas”. O Diário Oficial da União do dia 07 de maio trouxe a novidade com o mesmo ar de solenidade de quem anuncia a criação de uma orquestra sinfônica. Segundo o projeto, o espetáculo será exibido em temporadas no Rio de Janeiro e São Paulo. Naturalmente. Afinal, é nessas metrópoles que mora o Brasil profundo, o Brasil que precisa urgentemente conhecer a história de um cabaré do século passado. Cultura, dirão os defensores.
A Lei Rouanet (nº 8.313/1991) permite que empresas e pessoas físicas deduzam do imposto de renda valores destinados a financiar projetos culturais. O problema é quando o conceito de cultura começa a escorregar como sabonete molhado. Quando tudo é cultura, nada é. E entre uma peça sobre prostituição cheia de glamour e uma escola pública sem biblioteca, é sempre a peça que ganha.
A pergunta que fica, será que o brasileiro, esse personagem cada vez mais perdido entre a inflação e a insegurança, sente-se representado ao ver seus impostos financiarem a releitura de um prostíbulo? No fim das contas, estamos assistindo a um espetáculo. Mas não é o que vai estrear no teatro. É esse enredo onde o bom senso é o único artista fora do palco.
Por: Fábio Negriny / DRT 3307