Após a vitória de Luiz Caetano (PT) no segundo turno das eleições em Camaçari, os militantes do Partido dos Trabalhadores em Feira de Santana foram ao delírio. Era como se a eleição tivesse ocorrido na princesa do sertão, mas é bom lembrar, como diz o sábio ditado popular: “Não confunda calça com bota, porque bota é para calçar, e calça é para botar. ” Em outras palavras, a realidade política de Feira é outra, e cabe ao grupo do Partido dos trabalhadores (PT) entenderem que o reflexo das urnas alheias não resolve o dilema enfrentado no município de Feira de Santana.
A empolgação dos militantes mascara uma crise de identidade que vem roendo o partido em Feira de Santana. E essa crise não é recente. Tal como uma questão verdadeira, o PT no município vem padecendo com dúvidas profundas sobre quem é, o que realmente representa e qual o seu propósito na política feirense. Esse tema tem se tornado o principal assunto nas conversas internas dos líderes e membros do partido em Feira.
A derrota repetida do deputado federal Zé Neto (PT) pelo comando da prefeitura, agora pela sexta vez desde 1996, é o símbolo mais evidente desse dilema. Figura antes incontestável, Zé Neto viu seu domínio na segunda maior cidade da Bahia enfraquecer, mesmo com o controle dos cargos estaduais. A perda de força ficou explícita após o último resultado nas urnas, que praticamente dissolveu a fama de “Grande Cacique” que um dia o rodeava. Nem mesmo o apoio de figuras de peso, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Jerônimo Rodrigues, foram suficientes para dar-lhe a vitória tão desejada e sonhada.
O recado dado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, veio como uma última pá de cal. Ao afirmar, sem rodeios, que o PT precisa buscar novos caminhos para retomar sua competitividade, Rui lançou uma provocação direta ao grupo petista não só em Salvador, mas também nas cidades que foram derrotados, escancarando que a estratégia atual é, no mínimo, ineficaz. Não é à toa que, entre figuras importantes do partido na cidade, o consenso de que Zé Neto talvez não seja mais o líder capaz de conduzir o PT à vitória cresce dia após dia.
O resultado das urnas de 2024 foi uma espécie de tragédia política para os militantes que há 28 anos esperam ver Zé Neto no comando da prefeitura. A estreita diferença de 50,3% para José Ronaldo contra 46,7% para Zé Neto, representa mais uma amarga frustração. Nem a simpatia nacional por Lula e o respaldo do Governador Jerônimo Rodrigues bastaram para quebrar esse ciclo de derrotas. Em Feira de Santana, o PT se vê num impasse, onde, a cada eleição, precisa decidir entre reafirmar velhos líderes ou arriscar novos rumos para voltar a sonhar com a vitória.
Por: Fábio Negriny / DRT 3307